A modelação de sistemas de transportes e de energia no programa MIT Portugal
Authors
Abstract
O planeamento urbano para o desenvolvimento de comunidades mais sustentáveis tem vindo progressivamente a assumir a necessidade de se operar uma transição para sistemas energéticos e de transportes mais eficientes. Designadamente, segundo diversos documentos estratégicos (como a Estratégia Energético-Ambiental de Lisboa ou o Pacto dos Autarcas da UE), as emissões associadas ao consumo de energia devem ser reduzidas através da mudança para fontes energéticas mais limpas com ênfase no aumento da eficiência dos sistemas energéticos e de transportes das cidades.Mas a complexidade deste planeamento para um desenvolvimento sustentável nas cidades apela a modelos integrados e de larga escala. Nessa medida, os estudos que recorrem a técnicas de simulação que permitem predizer, com maior ou menor detalhe, os efeitos totais das políticas têm vindo a assumir maior relevância (ex. Paltsev et al., 2004; Bp-Imperial College Urban Energy Systems Project, 2008).
No entanto, se a micro-simulação energética se tem concentrado sobretudo nos modelos de transportes e de consumo energético residencial - particularmente ao nível das escolhas das famílias na aquisição de veículos (incluindo o tipo de combustível consumido por estes) e electrodomésticos e dos padrões de utilização associados a estes equipamentos - os comportamentos reais em termos de consumo de materiais e energia são muito mais complexos devido às interacções entre as actividades humanas e as tipologias de cidades, que são por sua vez resultado da influência de factores externos como as políticas, a tecnologia, a economia, os investimentos e a legislação (para referir apenas aspectos socioeconómicos, deixando por agora de parte aspectos geográficos, históricos e culturais).
Assim, uma componente importante destas ferramentas de simulação deve, em nosso entender, ser no futuro constituída por modelos comportamentais detalhados que captem os efeitos das variáveis que afectam as actividades humanas nas cidades e os consumos de materiais e energia associados.
Por exemplo, o consumo de combustíveis pelos transportes é fortemente influenciado pelo preço dos combustíveis mas também por uma série de factores como os padrões de uso do solo (ex. a especulação imobiliária pode afastar os habitantes dos centros das cidades para os arredores), as características dos veículos (nomeadamente a sua eficiência energética ou tipo de motorização), as condições e características da rede de tráfego (e consequente efeito nos níveis de congestionamento) ou as actividades diárias (deslocações, actividades profissionais, actividades no local de residência).
A relação entre estes factores e o consumo de materiais e energia é endógeno, na medida em que as decisões de consumo afectam estes factores no longo prazo. Um acréscimo não usual do preço da gasolina pode assim afectar uma série de decisões dos cidadãos. Por exemplo, se como consequência de um aumento dos combustíveis se pode dar no curto prazo uma passagem mais acentuada do transporte privado para o transporte público, no longo prazo as decisões podem passar por uma aproximação do local de habitação ao local de trabalho, pela aquisição de veículos mais eficientes e com motorizações preparadas para outro tipo de fontes energéticas (ex. híbridos ou eléctricos) ou pela opção pelo teletrabalho.